Linguagem Poética:
Desbravando o nada
Procuro desbravar
O nada que não sei
A palavra que não vi
O homem que não conheço
Quero desbravar
A língua que não falo
O povo que não conheço
A criança que não vi nascer
Vou desbravar
O país que nunca vi
A música que nunca escutei
O livro que nunca li
Tenho que desbravar
Recriar o nada
Fazer o nada aparecer
No mundo onde o nada existe
O nada sempre existiu
Desbravei o nada
Desencantei a palavra
Fiz do nada a palavra
Onde não existia nada
Marcos Torres, 2009.
A cachoeira
No caminho do mato,
A mata se levanta,
Numa estrada de barro batido
Entre cascalhos e pedras.
Na copa das árvores,
As corujas dormem
No incômodo do clarão.
O lagarto rastejando a espreita.
O inseto corre em fuga
Das aves que o devoram
Num voo rápido e certeiro.
O réptil come a ave,
Que comeu o inseto na ponta do galho.
Lá longe a cachoeira,
Aqui apenas fio de gotas d’água.
No caminho o córrego segue adiante,
A cachoeira rompe as pedras
Em busca do infinito.
As águas molham os pés
Num balé entre pedras e penhasco,
Encharcado de água no corpo,
Vou saindo em silêncio.
Marcos Torres, 2009.
O Rubi de Serra Leoa
Lá longe depois do Atlântico,
Um homem que cava um buraco
Em busca de uma pedra perdida,
Com as mãos sujas de barro
Enxuga o suor do seu rosto.
Lá fora o sol se levanta,
Enquanto o homem trabalha
Pisando em cascalhos e pedras.
Buscando uma pedra preciosa
Enquanto se chove lá fora.
A lama entre os cascalhos,
A mata cinzenta e escura,
O lobo uivando lá fora
Enquanto o homem trabalha,
No silêncio do túnel escuro
A noite escurece a mata,
O homem não ouve nem enxerga,
Não acha a pedra maldita
Que pode lhe dar outra vida.
A noite chegou e o sol já se foi,
O homem segue o caminho
No meio da mata perdido.
Sem a pedra que nunca encontrou,
Sem a pedra que nunca enxergou.
Marcos Torres, 2009.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário